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22 agosto 2013

Resenha: Necrópole - Boris Pahor

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Editora: Bertrand Brasil
Ano: 2013
Páginas: 294
Tradutor: Mário Fondelli
LIVRARIA DA FOLHA - SARAIVA - LIVRARIA DA TRAVESSA



Campo de concentração de Natzweiler-Struthof, nos Vosges, Alemanha. O homem que, numa tarde de verão, chega com um grupo de turistas não é um visitante qualquer, mas Boris Pahor, um ex-prisioneiro que, depois de muitos anos, volta ao lugar onde esteve preso. O autobiográfico 'Necrópole' traz as lembranças que surgem diante das barracas e do arame farpado transformados em museu e centro de visitação. O autor durante a Segunda Guerra Mundial colaborou com a resistência antifascista eslovena e foi deportado para os campos de concentração nazistas, experiência que o marcou e da qual se encontram resquícios na sua produção literária.

Classificação:       

"Já não sei por quem estivesse esperando, admitindo que de fato estivesse esperando por alguém, nem qual fosse o seu destino, admitindo que ainda tivesse um destino." Página 53


Solicitei Necrópole à Bertrand para ter acesso a um gênero diferente daqueles que eu sempre solicitava para a editora e acredito que Necrópole é uma obra que deve ser conferida por todos os leitores. Como avisei para editora algum tempo depois da solicitação, a leitura foi bastante lenta, a passos de tartaruga, pois a cada página novas informações são introduzidas à narrativa e o conteúdo é bastante denso. Fora que a leitura não é nada fácil, afinal, estamos falando sobre o Holocausto. "Necropoli" foi publicado pela primeira vez em 2008 e em 2013 a Bertrand Brasil publicou em nosso país, este é um livro bem diferente daqueles que eu estou acostumada a ler - com histórias mais leves e por isso demorei um mês para lê-lo, pois o sofrimento é tamanho que eu não conseguia ler mais do que poucas páginas por dia. 


"A causa da minha recusa, no entanto, talvez não fosse tanto o fato de sentir-me fraco, mas o subconsciente temor de eu mesmo ficar para trás, de eu mesmo me expor, junto com aquele que estava ajudando, ao risco da destruição. Como saber ao certo? Como saber até que ponto somos egoístas por temperamento e quanto o somos devido ao corpo debilitado?" Página 121


O autor, Boris Pahor, é de Trieste uma região que agora é conhecida por Itália. Foi capturado e enviado para um dos campos de concentração que abrigavam todas as pessoas que não eram consideradas alemãs. Durante a guerra, Boris sofreu com a fome, humilhações e por anos teve de observar diariamente seus companheiros de dormitório morrerem de fome ou serem mortos pelos SS. O livro mostra a visita do autor e sobrevivente deste massacre ao local em que foi aprisionado, lá ele apresenta cada uma das construções ao leitor e acaba comentando sobre as pessoas que estão visitando as instalações neste dia. Por exemplo, Boris Pahor acaba invocando com um casal de namorados que está se beijando sobre o chão em que milhões de pessoas foram assassinadas; ou até mesmo um garotinha que corre pelos campos enquanto sua família visita o local. Uma das passagens que mais me chamaram atenção foi quando o autor comenta sobre algumas mulheres que chegaram ao campo, sem saber o que lhes aconteceria e então foram levadas para o local que dizimaria suas vidas. Se eu pudesse resumir a leitura em apenas uma palavra seria CHOCANTE, pois a forma como Boris Pahor narra o que acontecia nos limites do campo de extermínio é dolorosa. 


"Como pude ser tão bobo de introduzir entre os mortos o retrato de uma pessoa viva! Um morto, entre os vivos, até que pode ter o seu lugar, mas um vivo entre os mortos nunca. O esquelético morador de um campo de extermínio não pode chegar-se aos vivos nem mesmo em pensamento!" Página 179


Sobre a edição feita pela Bertrand o que mais me chamou atenção foi a capa, elaborada toda na cor preta e com cruzes para dar ao leitor uma melhor visão do conteúdo da obra, apesar de também estar apresentado aos leitores por meio da frase na capa - Uma obra-prima da literatura do Holocausto. No final do livro há uma breve explicação sobre a vida do autor, suas outras obras e projetos. A revisão está muito boa, sem erros de digitação e espaçamento; o que facilita bastante a leitura e não deixa o leitor desanimado. O que acabou atrapalhando um pouco meu mecanismo de leitura foi a falta de capítulos, há uma pequena divisão entre assuntos a serem abordados, porém em algumas partes o autor acaba narrando muitos acontecimentos o que prejudicava a leitura, pois como eu lia pouco por dia tinha que ler a mesma página no dia seguinte para não me perder nos acontecimentos, porém este não se configura como um problema de edição porque poderia estar assim no original e a editora manteve este padrão. Uma obra forte, chocante e triste, mas que narra com riqueza de detalhes uma parte da história. Então, deve ser conferida por todos os leitores que desejam ter uma melhor visão do que acontecia nos limites dos campos de extermínio durante a Segunda Guerra Mundial. 


"Eu tomava conta dos doentes, é verdade; iriam sentir-se mais sozinhos sem a minha presença. Mas quantos outros estariam de bom grado dispostos a tomar meu lugar, mostrando-se igualmente prestativos e desvelados? Ainda criança, eu sonhava em escrever um livro no qual um homem ficaria conhecido graças à sua bondade; mas isso não bastava a resgatar-me diante dos milhões de mortos." Página 188

Um comentário:

  1. Parece ser uma leitura engrandecedora, mas não faz meu estilo.
    Não conseguiu chamar minha atenção.

    http://lisos-somos.blogspot.com.br/

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