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21 março 2016

Resenha: Uma vida no escuro - Anna Lyndsey

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Editora: Intrínseca
Tradução: Denise Bottmann
Páginas: 248
Gênero: Não Ficção

Com uma carreira consolidada e um apartamento recém-comprado em Londres, parecia que a única preocupação de Anna Lyndsey seria manter de seu padrão de vida. No entanto, o que começou como um desconforto diante da tela do computador revelou-se uma grave sensibilidade a qualquer fonte de luz. Em pouco tempo, trabalhar tornou-se inviável, e mesmo atividades corriqueiras passaram a causar dores lancinantes. Conforme os sintomas foram se agravando, ela precisou abrir mão da casa, da independência e de qualquer possibilidade de planos futuros.

Em Uma vida no escuro, ela nos revela uma existência com mais nuances do que se poderia esperar de alguém mergulhado no mais profundo breu, descobrindo meios de afastar os pensamentos deprimentes e perseverar mesmo com a incerteza de sua condição. Um livro de memórias envolvente e impactante, que aguçará a curiosidade de todos os interessados em histórias reais e extraordinárias.

Classificação:     



"E todas as minhas reflexões éticas viram pó diante de sua mera presença. Porque juntos, mesmo na escuridão, iluminamos o quarto. Porque a culpa represada em mim se rompe e se dissolve diante de uma explosão ridícula de felicidade. Porque o amo e sei que não posso deixá-lo, sou incapaz disso, a menos que ele me peça para ir embora." Página 19


Anna Lyndsey é o pseudônimo da protagonista de Uma vida no escuro, lançado pela Editora Intrínseca em janeiro deste ano. Ao receber a divulgação da obra, me deparei com a sinopse e logo me interessei em conferir a obra. Esta é uma não-ficção que nos mostra a árdua batalha de Anna contra uma doença crônica definida como dermatite seborreica fotossensível, o que acarreta a sensibilidade severa à luz. Anna era funcionária pública, morava em Londres e tinha um emprego estável e que gostava, porém ao notar que a permanência contínua próxima de um computador começou a causar irritação em sua pele, procurou ajuda e aos poucos a sensibilidade passou para todo o seu corpo.

O livro nos mostra a mudança que a autora teve em sua vida, sua rotina e trabalho - que se afastou e precisou ser confinada em um quarto escuro para melhorar a situação de sua pele. Logo no início da obra, ela faz questão de dar ao leitor as informações médicas sobre sua condição como, por exemplo, o diagnóstico, capacidade funcional atual e o prognóstico provável de sua doença. Mostra também o que os médicos e livros falam sobre o que ela tem, apesar de ser algo pouco documentado e não se chegar a um diagnóstico definitivo.

A autora passa seus dias em confinamento, ouvindo livros aleatórios e deixa claro que só tem duas proibições na lista: James Patterson (por causa das minuciosas descrições de assassinatos) e Miss Read. Esta é uma parte importante da vida de Anna, já que ao ficar no quarto escuro as atividades que ela pode fazer são escassas, porém ao longo da obra ela nos apresenta jogos que fazia sozinha ou com sua família. Fonte de todo o apoio emocional e financeiro a autora têm Pete, fotógrafo e seu futuro marido. O livro é dividido em duas partes, sendo a primeira a descrição da doença e todas as suas reviravoltas, desde ficar confinada por dias a fio em seu quarto escuro, conversas com seus familiares e descrição de sonhos e jogos para os dias em que ela passa sozinha. Por sua vez, a segunda parte mostra ao leitor a remissão, pontos em que a doença de Anna Lyndsey recuou e deixou a autora aproveitar um pouco da vida que lhe foi tomada de forma tão repentina.


"E penso na vida que tinha antes, uma vida bastante comum, com o equilíbrio normal entre frustrações e satisfação, o complemento normal entre luz e sombra. E me lembro do princípio da escuridão, de quando ela criou suas primeiras raízes, bem no centro daquela vida." Página 24


Diferente de tudo o que já li, Uma vida no escuro é uma leitura obrigatória para todos. A autora nos apresenta a forma que uma doença crônica se infiltra em nossa rotina e aos poucos vai privando o portador de tudo o que ele mais preza: sua rotina. Como Anna Lyndsey mostra em todas as linhas da obra, essa é uma montanha-russa que só quem tem sabe o quanto é desesperador ter de suportar algo que nunca terá fim. A segunda parte do livro é a que mais me comoveu, pois mostra a autora tendo esperanças de uma possível melhora e a cada derrota pela doença, a batalha dela para se reestruturar e continuar tentando suportar a luz. Como leitora, fiquei impressionada a cada capítulo narrado por ela, já que essa doença é algo que nunca imaginei que pudesse existir, já que a luz é algo básico em nossa vida.

O livro é narrado em primeira pessoa e o leitor pode ficar mais próximo da autora e tudo o que ela estava vivendo ao descobrir e conviver com a sensibilidade a luz. A honestidade com que ela mostra ao leitor todas as vezes que esteve a ponto de jogar tudo para o alto, assim como a forma apaixonada com que fala de seu namorado é cativante. Uma vida no escuro é uma obra maravilhosa e que faz o leitor se questionar o que faria se estivesse no lugar da autora. Confesso que até agora não tenho uma resposta para essa pergunta que me fiz durante toda a leitura.

A capa é linda, toda preta e com pontinhos brilhantes - cada leitor interpreta de forma única, mas para mim ela representa a forma com que Anna Lyndsey encarou sua doença e todos os pontinhos são as suas vitórias diante da luz. A narração é não-linear, já que a autora dividiu o livro em duas partes apresentando fatos sobre a sua doença e descobertas, e na segunda parte as memórias que têm de quando a doença regrediu lhe dando brechas para aproveitar tudo o que lhe foi tirado. A forma direta com que ela apresenta os fatos e como esteve a ponto de desistir, deixam o leitor impressionado com a sua vida, além de dar-nos um motivo a mais para não reclamar dos problemas que enfrentamos diariamente. A edição está perfeita, a diagramação e revisão estão ótimas, deixando a leitura fluida para que o leitor possa aproveitar todas as emoções que a obra tem a nos proporcionar. Leitura mais do que recomendada para todos aqueles que querem conhecer a história desta mulher guerreira e que não se deixou vencer pelas adversidades.


"Agora não importa muito. Qualquer atividade corriqueira é, em potencial, uma porta para o desastre. No jogo das serpentes sem escadas que é a minha vida, as serpentes espreitam em todos os cantos. Pisei numa, outra vez estou de volta à escuridão total, com a pele em chamas, esperando que o fogo diminua. E, quando diminui, dias, semanas e talvez meses se estendem à minha frente enquanto a pele se estabiliza aos poucos, até que eu possa ganhar a bênção de outra lenta escalada de volta à luz." Página 196



12 comentários:

  1. Gostei bastante da resenha, não conhecia o livro mas já gostei dele, fiquei curiosa pra conhecer a história de Anna, o livro tem jeito de ser ótimo.

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  2. Esse livro deve ser tocante, quero muito ler e conhecer mais sobre Anna, e saber como a narrativa é

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  3. Ainda não conhecia o livro, mas achei super interessante o fato da história girar em torno da Anna e de sua doença. Parece ser um livro muito envolvente e emocionante, pretendo ler e já adicionei na lista. Só espero que a Anna consiga aproveitar a sua vida ao máximo. Adorei a resenha *-*

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  4. Que história emocionante. Não sei o que faria no lugar da Anna. As vezes nossos problemas do dia a dia são tão pequenos em relação ao de outras pessoas.. Gostaria muito de ler o livro, gostei bastante da capa também!

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  5. Ola,
    Amei a resenha o livro pelo visto é muito mais do que eu pensava, a temática é muito importante, pois realmente muitas vezes a doença se infiltra na nossa rotina que nem percebemos mudando tudo, irei ler em breve.
    Beijos *-*

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  6. Adoro livros narrado em primeira pessoa, já gostei desse começando por ai haha também acho a capa maravilhosa, esse COM CERTEZA seria um livro que eu compraria só pela capa. Gosto bastante de leituras de não-ficção, muita gente caracteriza como chatas e paradas, mas, podemos ver principalmente nessa obra, as leituras desse gênero nos leva para conhecer o cotidiano de alguém, seus problemas etc. e eu adoro! Adorei a história do livro, assim que tiver uma oportunidade, vou adquiri-lo.

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  7. Achei bem diferente esse livro. Gostei da capa a história também parece ser comovente, mas não me interessa tanto.

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  8. aI QUE TRISTE!
    Naõ conhecia esse livro e me senti na pele da autora. Ana é uma mulher guerreira por ter trazido essa experiencia em forma de livro pra nós leitore,

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  9. Não conhecia esse livro ainda. Mas fiquei interessada.

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  10. Oi!
    Já tinha visto Uma vida no escuro mas é a primeira vez que leio uma resenha e gostei muito da historia principalmente tendo a Anna contando um pouco do sobre essa doença que ainda não conhecia e se tiver oportunidade quero ler !!

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  11. Nossa, que história.
    Fiquei curiosa para saber mais sobre como ela passou por tudo isso. São poucos os livros de não-ficção que leio, mas a história de Anna parece ser bem emocionante.

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  12. Acho essa capa muito bonitinha apesar de ser simples, as vezes menos é mais e esse nome nos faz imaginar muitas coisas. Que sinopse triste. A vida comum que ela queria de volta, muitas vezes é o que nos deixa insatisfeitos :( que graça sua forma de ver a capa.

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