Páginas

06 março 2013

Resenha: Não conte para a mamãe - Toni Maguire

|
Editora: Bertrand Brasil
Ano: 2012
Páginas: 308

A frase que dá título ao livro de Toni Maguire, Não conte para a mamãe, poderia ser uma pacto ingênuo entre dois irmãos ou uma brincadeira entre crianças. Infelizmente, não é o caso. Na verdade, é a ameaça sofrida pela autora durante os quase dez anos em que foi violentada pelo próprio pai. Quando aconteceu pela primeira vez, a pequena e inocente Antoniette tinha apenas seis anos. Apesar da tenra idade, tudo ficou gravado em sua memória, o tempo nada dissipou: os detalhes, os sentimentos, a dor. Foi a primeira de muitas, incontáveis vezes. Não conte para a mamãe, de Toni Maguire, desvela a comovente história de um infância idílica que mascarava uma terrível verdade.
Classificação:     

" Era tarde demais para que ela pudesse sentir-se parte do grupo, sua infância já acabara. Ao completar dez anos de idade, ela sabia que qualquer felicidade que sentisse era somente uma ilusão momentânea." Página 117


Se você acredita que a leitura de Não conte para a mamãe será fácil, desista de lê-lo antes de começar. A narrativa envolvente de Toni, agora adulta, leva o leitor a imaginar tudo pelo que ela passou desde que era muito pequena. Apesar da pouca idade que tinha quando tudo começou, a obra retrata bem os sentimentos e aflições que ela sentia a cada violência sofrida por aquele que deveria protegê-la.

Antoinette sempre foi uma criança amável e era extremamente amada por sua mãe e por sua avó materna. Seu pai, por outro lado, estava lutando na guerra e era visto por ela como sendo um estranho que sempre que aparecia trazia presentes. Toda esta rotina de Antoinette e o afeto de sua mãe mudaram radicalmente quando o pai da garota voltou e começou a viver com ela e com a mãe. No início ela acreditava que seria uma boa convivência e que ele a amava, porém quando mudaram-se para uma casa de sapê descrita por Antoinette como sendo bastante velha, os abusos começaram. Inicialmente ele tratava ela muito mal e apenas uma roupa fora do lugar era motivo para espancamento, mas um dia tudo mudou e aquele que lhe dera a vida acabara beijando-a. O homem pediu segredo usando a frase "não conte para a mamãe, minha menina" que seria sempre usada ao longo dos anos. Instintivamente a menina fora relatar o acontecido para sua mãe e foi repreendida, sendo que aquela que deveria lhe proteger só disse "nunca mais fale sobre isso". 

" Deitada no escuro com os punhos cerrados, eu apertava os olhos com força, na esperança de que, se não os abrisse, ele não apareceria. Mas ele sempre aparecia. Eu tentava me afundar sob as cobertas. Depois sentia o frio no corpo, quando ele as puxava para baixo e levantava minha camisola de flanela. Ele sussurrava no meu ouvido: - Você gosta disso, não gosta, Antoinette?" Página 121



Os anos se passaram e a violência física e psicológica a que Antoinette era submetida começou a aumentar e com isso veio a violência sexual. Aos seis anos Antoinette já havia sido violada por seu pai, que constantemente abusava da filha nos chamados passeios. Ele saía com ela, dando a desculpa de que iria passear com a filha, e abusava da menina todas as vezes que saíam de casa. Os abusos começaram a acontecer em qualquer lugar, desde na casa dos vizinhos e até na cama do casal. E com os abusos vinham as ameaças que ele fazia para mantê-la quieta, utilizando argumentos para deixá-la envergonhada por sua situação e de que a sua mãe jamais a amaria caso soubesse o que ela fazia. 

Quando Antoinette tinha quatorze anos acabou engravidando e com essa gravidez todo o seu amor pela mãe tornou-se ódio, porque ela sabia o que o marido fazia com a pequena filha e mesmo assim nunca fez nada para parar. Antoinette é levada para uma clínica e faz um aborto ilegal, o que teve várias consequências para sua vida e seu corpo. 

" Uma tristeza terrível ameaçou tomar conta de mim ao me perguntar como duas pessoas tão capazes de amar uma à outra haviam sentido tão pouco amor pela filha que geraram." Página 196


Lembro que assim que vi uma resenha sobre este livro fiquei interessada em conferir e logo que vi que tinha sido selecionada como parceira da Bertrand não tive dúvidas que este seria o primeiro livro que gostaria de resenhar. Em momento algum me arrependi de tê-lo escolhido, mas confesso que até eu que tenho estômago forte para terror, acabei me assustando e por diversas vezes tive de interromper a leitura porque se continuasse acabaria vomitando. O livro é narrado em primeira pessoa, tanto por Antoinette quanto por Toni, no caso o nome Toni foi adotado pela autora como forma de se proteger e tornar-se uma pessoa diferente da garotinha que constantemente era abusada.

"Pedófilo não era uma palavra muito usada na época, nem seria a palavra associada a meu pai, em todo caso. As pessoas diziam que eu havia sido cúmplice e que, para me salvar ao ver que estava grávida, alegara estupro aos quatro ventos." Página 254

O livro não é linear e acaba tendo uma mescla dos períodos em que Antoinette era pequena e quando ela é confrontada por seus demônios ao estar no hospital cuidando da mãe que está a beira da morte. Admiro a coragem da autora em publicar esta obra, acredito que foi com o intuito de alertar que a situação - apesar de ser um tabu - é real e todos devem ficar atentos quanto a isto. Percebi que além de Não conte para a mamãe, Toni Maguire escreveu obras semelhantes relatando a sua infância e as cicatrizes que ela deixou em sua vida, sendo que a arte das capas sempre apresenta uma menina de uns 5 ou 6 anos com um olhar triste, o que representa uma das consequências de sua criação. Quem sabe algum dia eu volte a ler mais sobre a autora, a força que ela deixa nas entrelinhas de sua obra é impressionante e muitas pessoas conseguem tornar-se mártir por muito menos menos. Leitura recomendada para aqueles que querem saber um pouco mais sobre como uma criança se sente ao ser exposta a todos os tipos de abuso que podem existir, mas lembre-se que a história é verídica e constantemente noticiada nos jornais. 

"Concluí que ninguém jamais poderia me amar. Ninguém jamais me amara, não quem eu era de verdade. Sim, amaram a menina bonita de vestidos bordados, a criança inteligente que tirava boas notas, a adolescente prestativa, sempre pronta a ajudar com seus filhos. E quem amara a adolescente grávida, a criança que conhecia o sexo, a menina amedrontada? Nem sequer minha mãe." Página 274



27 comentários:

  1. NOSSA, realmente um horror! Quando li o título da resenha junto com a capa pensei exatamente sobre esse assunto. É triste que isso aconteça, meu Deus, imagine o trauma de uma criança sofrendo esses abusos. Imaginamos que isso nunca aconteça com aqueles que estão perto de nós, mas nunca sabemos, todo cuidado é pouco. O pior foi a mãe saber e consentir.

    Rafa, tenho uma página no face sobre amor aos livros e leitura, posso compartilhar sua resenha lá?

    Bye da Pah
    Livros Estrelas
    Essa é a página
    Eu amo LER

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Paloma, concordo com você. Acreditamos que as pessoas que estão a nossa volta não passam por situações semelhantes, mas nunca se sabe o que realmente acontece. Também fiquei indignada com a atitude da mãe, tentar acobertar os abusos dizendo para a menina não comentar com ninguém.

      Ah, fiquei super feliz com isso. Pode compartilhar a resenha sim, eu ficaria honrada. Muito obrigada pela oportunidade de divulgar meu trabalho e o da editora em sua página.

      Volte sempre.

      Excluir
    2. Obrigada Rafaella, compartilhei.

      Excluir
  2. Gente o livro é de se emocionar, a historia é real, o que torna a leitura bem melhor, mas o que tem por trás dela é muito ruim.

    ResponderExcluir
  3. Meu Deus ! Coitada da escritora ... toda vez que eu lia esse titulo eu achava que era uma história vivida por duas crianças e nunca pensei na gravidade do assunto. Estou muito triste pelo o que aconteceu com ela, isso não se dever acontecer com ninguém :(

    ResponderExcluir
  4. Eu sei que é uma leitura forte e provavelmente eu leria sofrendo, mas tenho muita curiosidade em relação a esse livro.

    bjs,
    Camila Márcia
    @camila_marcia
    De Livro em Livro
    Devaneios Fugazes

    ResponderExcluir
  5. Nossa, não sabia a temática do livro até ler sua resenha. Eu não consigo ler livros com enredos tão fortes, geralmente caio no choro e não consigo terminar o livro, portanto não pretendo lê-lo.

    ResponderExcluir
  6. Parece ser uma leitura muito pesada, que ao invés de me fazer refletir, irá me fazer sofrer. Prefiro temas mais leves.

    ResponderExcluir
  7. A História é importante, porquê esse assunto é muito grave, e o pior é que a história é real, é triste ver coisas assim acontecerem, não acho que vou ler o livro, pois essas temas sempre me deixam muito triste e angustiada, Mas eu entendo a mensagem do livro, é importante para as pessoas e também, um jeito da autora desabafar e ajudar outras pessoas.

    ResponderExcluir
  8. É um assunto tão delicado...
    Escrever isso deve ter funcionado como uma terapia para ela.
    Sempre fui interessada nesse livro por saber do que se trata, vai soar estranho mas, eu gosto de ler sobre esses assuntos tão delicados, pois são pouco divulgado, e para quem não trabalha e não tem contato é escasso o conhecimento sobre como a criança se sente, e quais as consequências que uma situação dessa acarreta para todos com quem ela se relaciona.
    Enfim, muito boa a sua resenha ^^

    Post it and Scrapbook
    @wynnis

    ResponderExcluir
  9. Nossa, que triste saber que é baseado em fatos reais. Eu tenho vontade de ler, mas acho que ficarei bem chocada ao final da leitura.

    ResponderExcluir
  10. O livro parece ser bem chocante...
    Uma realidade triste pois com certeza acontece muitas vezes :(

    ResponderExcluir
  11. Acho que não me sentiria muito bem lendo esse livro..
    parece ser bem forte..
    mas nem tudo são flores né.. e isso acontece + do que imaginamos..

    ResponderExcluir
  12. Uma realidade triste que acontece muito. Fiquei curiosa para ler a obra, apesar de chocante e talvez, até assustador; seja uma espécie de mensagem, e acho que até mesmo uma maneira de a autora conversar com a gente sobre o que ela não podia falar com ninguém naquela época!

    ResponderExcluir
  13. Quero ler este livro e tenho certeza que derramarei rios de lágrimas e ficarei indignada até a raiz do cabelo.
    Bjs, Rose.

    ResponderExcluir
  14. Uau esse livro deve ser muito triste uma criança violentada pelo pai que horror eu queria muito ler esse livro pra ver como é a historia toda e eu tenho certeza que é muito triste e eu vou chorar muito.

    ResponderExcluir
  15. É um tema muito pesado, acho que não tenho cabeça pra ler esse tipo de coisa no momento, ainda mais agora, mãe de um bebê pequeno, a gente fica ainda mais sensível e tocada quando ouvimos esse tipo de história....mas, infelizmente, é uma realidade presente na nossa sociedade nos dias de hoje e não podemos fechar os olhos pra isso.
    É uma atitude muito louvável e corajosa da autora de compartilhar a sua experiência com os leitores, creio que essa divulgação, de uma forma ou de outra, acaba tendo uma repercussão positiva pra todo mundo.
    Bjs

    ResponderExcluir
  16. Já li esse livro e recomendo não é uma história que cative muitas pessoas por se tratar de um tema bastante forte. E confesso que teve umas partes que as lagrimas vieram aos olhos :(

    O livro é uma boa pedida pra refletir sobre a vida, que nem sempre é bela.

    ResponderExcluir
  17. Já li esse livro e recomendo não é uma história que cative muitas pessoas por se tratar de um tema bastante forte. E confesso que teve umas partes que as lagrimas vieram aos olhos :(

    O livro é uma boa pedida pra refletir sobre a vida, que nem sempre é bela.

    ResponderExcluir
  18. Nossa, que livro pesado. =O
    Gente, o ruim dessas leituras é isso, te deixa indignada, com raiva... não sei, são aquelas leituras que te atormentam. Não é meu estilo favorito, mas é muito interessante.

    ResponderExcluir
  19. Não sabia que o livro é baseado em fatos reais ): Tenho muita vontade de ler este livro.

    ResponderExcluir
  20. Nossa esse livro é para se indignar neh, baseados em fatos reais e pior é que sabemos que esse tipo de coisa ainda acontece :/
    Essa é uma leitura que não encaro, sei que ia me fazer muito mal.

    ResponderExcluir
  21. Uau, que chocante. A Capa do livro é linda e com certeza este livro devia ser mais divulgado por aí. Muito triste a gente não quer acreditar, mas infelizmente isso realmente acontece. Quem era pra dar amor só consegue plantar infelicidade no coração de seres tão pequenos. :/

    ResponderExcluir
  22. Um livro muito forte,é preciso preparação para ler."Hoje eu sou Alice" tem o mesmo tema.
    ". E quem amara a adolescente grávida, a criança que conhecia o sexo, a menina amedrontada? Nem sequer minha mãe." que trecho!É para refletir sobre o horror de quem passa por essa violência,só de pensar machuca,imagine quem vivenciou isso.

    ResponderExcluir
  23. Poxa tá aqui outro post que eu jurava ter comentado, bom quando li a resenha apesar de ter gostado e me interessado achei tudo um pouco perturbador, sem contar que é praticamente um autobiografia né? Quer muito dar uma chance a esse livro, mas antes acho que preciso me preparar psicologicamente rs

    ResponderExcluir
  24. Por mais que o livro seja forte, chocante e difícil ele representa coisas que acontecem diariamente em todas as partes do mundo.
    Tenho certeza que vou chorar e ficar com raiva, mas quero muito ler esse livro.
    Beijos

    http://avidadeumabookaholic.blogspot.com.br

    ResponderExcluir
  25. Estou muito curiosa para ler este livro, mas ao mesmo tempo com medo. É um tema tão falado e ao mesmo tempo tão negligenciado dentro de nossas próprias casas!!!

    ResponderExcluir

Quer deixar uma dica ou sugestão? Comente e me deixe feliz.

Para que eu possa visitar seu blog deixe um comentário com o nome do blog e eu entrarei em seu perfil. Ou use a opção Nome/URL. Por favor não coloquem links nos comentários porque o blogger considera como spam.

Agradeço a visita!