Páginas

19 junho 2020

Resenha: 1793 - Niklas Natt och Dag

|
Editora: Intrínseca
Ano: 2020
Páginas: 432
Tradutor: Fernanda Abreu





 
Em seu romance de estreia, o sueco Niklas Natt och Dag cria um retrato vívido da sombria Estocolmo do final do século XVIII. Estamos no outono de 1793. Logo pela manhã, ainda de ressaca, o sentinela Mickel Cardell é alertado sobre um corpo que foi encontrado flutuando nas águas fétidas do lago da Ucharia. Os esforços para identificar o cadáver totalmente mutilado são confiados ao incorruptível advogado Cecil Winge, que pede a ajuda de Cardell para resolver o caso. O tempo, no entanto, é curto: a saúde de Winge é frágil, a situação política do país, instável e, pelas esquinas, proliferam paranoia, violência e conspirações.

Winge e Cardell mergulham nas sarjetas de um mundo brutal de ladrões, mercenários e aristocratas corrompidos. De um filho de fazendeiro percorrendo um caminho traiçoeiro ao procurar fortuna na capital a uma jovem órfã enviada para uma casa de correção por um pároco impiedoso, a complexa investigação passará pelas muitas camadas de uma sociedade corrupta. Ricos e pobres, bons e maus, vivos e mortos: o cadáver retirado do lago pode comprometer e fundir todos esses mundos.

Ousado e brilhante, 1793 é um noir histórico eletrizante que, a cada página, torna-se ainda mais perturbador.



"-(...) Ladrões analfabetos, maridos assassinos que sequer se dão ao trabalho de limpar o sangue do martelo, todo tipo de violência cometida por bandidos, criminosos levados a acessos de fúria alcoólica e seus efeitos. Mas isso aqui é outra coisa, de um tipo que nem eu nem você já vimos. Se houvesse outra pessoa a quem pudesse confiar esse assunto, eu não hesitaria. Mas não há, e em algum lugar por aí existe um monstro disfarçado de gente." Páginas 27 e 28



1793 é uma leitura extremamente perturbadora, já inicio essa resenha com essa afirmação para aqueles que são sensíveis para as leituras mais pesadas não tenham surpresas ao continuar a leitura da minha opinião sobre a leitura. Logo que vi a sinopse da Editora Intrínseca e toda a divulgação do livro não tive dúvidas de que este seria um dos lançamentos que gostaria de ler, pois sou apaixonada por livros de investigação e já pela capa e sinopse fiquei interessada pela leitura.

Tudo começa quando o sentinela Mickel Cardell, com a ajuda de duas crianças, encontra um cadáver no lago Ucharia, então junto com o advogado Cecil Winge inicia uma busca por respostas. O corpo encontrado no lago estava sem os braços e as pernas e não seria fácil a sua identificação por conta do rosto já estar deformado, além das agressões sofridas em vida que deixaram impossível sua identificação. A narração mergulha nas partes mais sombrias de Estocolmo no ano de 1793, levando o leitor a acompanhar os personagens em suas batalhas diárias pela sobrevivência.

Além do mistério que ronda o cadáver encontrado por Cardell, outros personagens são inseridos na história e aos poucos o leitor os conecta à história principal. Um destes personagens é Anna Stina, uma jovem que sofreu bastante em sua vida e é levada a uma casa correcional por um crime que não cometeu e Kristofer Blix um aprendiz de médico que teve seu destino cruzado com a jovem mulher. Há ainda, Johannes Balk um homem que sofreu muito desde a infância e isso fez com que ele se tornasse uma pessoa fria e sem escrúpulos.



"Fiquei calado. Bem lá no fundo, todo o meu ser se esgoelava. Quando o toco de vela se apagou, minha imaginação criou sua própria luz na escuridão e eu vi, como no sonho que tinha tido no Santuário, a névoa se fechar em torno da terra prometida do meu futuro." Página 162



O autor Niklas Natt och Dag dividiu 1793 em 4 partes, sendo a primeira a descoberta do cadáver no lago Ucharia, a segunda nos apresenta a história do jovem Kristofer Blix e as cartas que escreve para sua irmã, já na terceira o autor nos detalha as provações que a jovem Anna Stina passou em sua vida e a quarta parte é a união da história desses personagens tão diferentes, o que torna a quarta parte a mais interessante de ser lida pois é agora que a história se conecta e o autor liga todas as pontas que estavam soltas na narração. Os personagens são extremamente bem construídos e confesso que no início a leitura foi um tanto complicada, não pela parte criminal, mas pela forma com que o autor conduziu a narração, apresentando os personagens de forma bem descritiva, porém sem qualquer conexão óbvia com o personagem apresentado em seguida. Porém ao finalizar a leitura fiquei impressionada com a obra, já que o autor conseguiu conduzir a história sem dar qualquer pista sobre o mistério principal da narração.

Sobre a edição da Intrínseca só tenho elogios, começando pela capa maravilhosa que nos transporta para Estocolmo em 1793 e já começa a criar o clima para o que encontraremos durante a leitura. A lateral do livro é toda preta, dando um aspecto mais sombrio para o livro. A diagramação e a revisão estão ótimas, só um ponto que achei que poderia ser melhor são as páginas que apesar de amareladas e serem melhores para a leitura, acabam passando a sombra do conteúdo do verso. Este é um livro para os amantes de leituras que envolvam temas criminais, assim como a desigualdade de classes, além do ambiente hostil e sombrio de Estocolmo em 1793.



"Eu não sonho mais com pradarias e framboesas silvestres, querida irmã. Para mim tudo isso está destruído para sempre. Dizem que a inocência, uma vez perdida, nunca mais pode ser recuperada, e este verão que descrevo a você me roubou os sonhos. Como algum dia voltarei a sentir felicidade ou alegria depois do que vi e do que fiz?" Página 201


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Quer deixar uma dica ou sugestão? Comente e me deixe feliz.

Para que eu possa visitar seu blog deixe um comentário com o nome do blog e eu entrarei em seu perfil. Ou use a opção Nome/URL. Por favor não coloquem links nos comentários porque o blogger considera como spam.

Agradeço a visita!