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20 fevereiro 2019

Resenha: O ódio que você semeia - Angie Thomas

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Editora: Galera Record
Ano: 2018
Páginas: 378
Tradutor: Regiane Winarski

Uma história juvenil repleta de choques de realidade. Um livro necessário em tempos tão cruéis e extremos.

Starr aprendeu com os pais, ainda muito nova, como uma pessoa negra deve se comportar na frente de um policial.
Não faça movimentos bruscos.
Deixe sempre as mãos à mostra.
Só fale quando te perguntarem algo. 
Seja obediente.
Quando ela e seu amigo, Khalil, são parados por uma viatura, tudo o que Starr espera é que Khalil também conheça essas regras. Um movimento errado, uma suposição e os tiros disparam. De repente o amigo de infância da garota está no chão, coberto de sangue. Morto.
Em luto, indignada com a injustiça tão explícita que presenciou e vivendo em duas realidades tão distintas (durante o dia, estuda numa escola cara, com colegas brancos e muito ricos - no fim da aula, volta para seu bairro, periférico e negro, um gueto dominado pelas gangues e oprimido pela polícia), Starr precisa descobrir a sua voz. Precisa decidir o que fazer com o triste poder que recebeu ao ser a única testemunha de um crime que pode ter um desfecho tão injusto como seu início.
Acima de tudo Starr precisa fazer a coisa certa.
Angie Thomas, numa narrativa muito dinâmica, divertida, mas ainda assim, direta e firme, fala de racismo de uma forma nova para jovens leitores. Este é um livro que não se pode ignorar.

Classificação:      


"- Não fique com medo na segunda. Fale a verdade para a polícia e não deixe que coloquem palavras na sua boca. Deus deu um cérebro a você. Você não precisa do deles. E lembre que você não fez nada de errado, foi o policial que fez. Não deixe que façam você pensar o contrário." Página 54


O ódio que você semeia foi relançado com a capa filme pela Galera Record em 2018 e assim que recebi a obra de ação enviada aos parceiros, não hesitei em iniciar a leitura. Angie Thomas tratou de temas que estão sendo cada vez mais abordados nos noticiários em todo o mundo, o que tornou a obra atemporal e uma leitura indispensável para todos que querem conhecer o outro lado das histórias noticiadas exaustivamente nos últimos meses. 

Durante a leitura, conhecemos Starr uma jovem negra que mora em um bairro periférico e que sempre foi ensinada por seus pais a se comportar caso seja parada pela polícia. Olhos baixos, sem movimentos bruscos e sempre com educação, tudo isso é posto à prova quando estava voltando de uma festa com seu amigo Khalil, ele, por outro lado, não teve a mesma educação rígida que Starr e acabou sendo morto por um policial após este pedir os documentos do carro. O policial acreditou que Khalil fosse pegar uma arma, porém ele estava apenas vendo se sua amiga estava bem e a "arma" era uma escova de cabelo. 

Depois da morte de Khalil ser noticiada e Starr ser a testemunha do caso, a vida da jovem virou de ponta cabeça já que precisa escutar suas amigas dizendo que seu amigo era, na verdade, um traficante e que o policial estava apenas se defendendo. Esta é é história que faz o leitor refletir sobre o quanto as minorias travam uma luta diária por sua sobrevivência, mas ao mesmo tempo mostra o lado dos policiais - no papel de Carlos, tio de Starr - e o quanto eles também temem por sua segurança no exercício de suas funções. 



"Às vezes, você pode fazer tudo certo, e mesmo assim as coisas dão errado. O importante é nunca parar de fazer o certo." Página 134


Confesso que essa foi uma leitura extremamente difícil para mim, pois comecei a ler a obra enquanto estava de plantão e precisei lidar com duas situações próximas ao que aconteceu no livro e ainda não consegui chegar a uma conclusão do que faria no lugar da protagonista. A autora mostra a luta de Starr para ser duas pessoas diferentes, uma em casa, e outra na escola, mas quando seus mundos colidem com a morte de seu melhor amigo a vida da garota vira uma montanha-russa e ela precisa manter os pés no chão e tentar chegar a um equilíbrio. Sua família foi essencial, assim como seu namorado, que agora conheceu as origens dela e mesmo assim se manteve ao lado da garota enquanto seu mundo desabava. 

Esta é uma leitura indispensável para despertar no leitor a empatia pelas minorias, o que nos últimos tempos está se mostrando em falta na sociedade. Os personagens são complexos e cada um trava sua própria batalha pela sobrevivência, a história é forte e angustiante - por isso demorei um pouco para ler, apesar de o livro não ser grande - mas é uma leitura gratificante. Gosto muito das edições com a capa dos filmes, então essa ficou perfeita. A edição também não desapontou, a revisão e a diagramação estão boas, o que torna a leitura ainda mais proveitosa. Sem dúvidas é uma leitura indicada para todos que querem uma leitura reflexiva e que deixa o leitor pensando: "O que faria se isso acontecesse comigo?".  


"Deus. Ser duas pessoas diferentes é tão exaustivo. Eu me treinei para falar com duas vozes diferentes e só dizer certas coisas perto de algumas pessoas. E dominei essa arte. Por mais que eu diga que não preciso escolher que Starr sou com Chris, talvez, sem perceber, eu precise, até certo ponto. Parte de mim sente que não posso existir perto de gente como ele." Página 255

2 comentários:

  1. Certamente é uma leitura obrigatória, não só para saber como é a vida e dificuldades que passam as pessoas discriminadas pelo racismo, pois isso tomo mundo sabe, mas para assimilar cada vez mais e a se colocar no lugar do outro INDEPENDENTE da sua condição (negros, mulheres, idosos, homossexuais, enfim). Das fobias e maldades do ser humano (que deixou de ser humano a horas), o racismo de cor é um dos que mais me abalam, tanto em livros quanto em filmes, pois juro que não consigo entender o que SIMPLESMENTE a cor da pele pode incomodar tanto esses seres, a ponto de fazerem maldade, é algo que está além da minha compreensão. Quanto ao livro, o relato dessa jovem deve ser pesado, revoltante e cheio de sentimentos. É o tipo de leitura que deixa o leitor reflexivo por um tempo. Tu deixou claro que a leitura é indispensável, e tenho certeza que é mas uma coisa é fato, só vão ler e se abalar com isso quem tiver o coração em paz, pois quem é para a maldade não vai nem chegar perto desse tema ou sentir qualquer revolta e sofrimento com a narrativa.
    Não gosto de livros com a capas do filme, implicância pura ahahah, prefiro ainda as originais.

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  2. Oi Rafaella,
    Eu sou uma mulher negra e, mesmo nunca tendo passado por uma situação como a de Starr, a possibilidade sempre esteve pairando sobre mim e minha família. Por mais que a gente queira acreditar que o preconceito vai acabar um dia, hoje ele ainda é muito presente na sociedade e as vezes se manisfesta nas coisas mais simples e rotineiras. E junto a ele temos a injustiça que faz com que cada luta perca o sentido. O ódio que você semeia me parece ser um livro para abrir os olhos e nos mostrar uma realidade presente, mas que muitos preferem ignorar. É um livro já está em minha lista de desejados e quero muito ler antes de conferir a adaptação.

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