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04 fevereiro 2021

Resenha: O refúgio - Mick Kitson

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Editora: Intrínseca
Ano: 2020
Páginas: 320

                                                          

Muitas são as nuances do romance de estreia de Mick Kitson, mas uma palavra o descreve com perfeição: sobrevivência. Essa é a história de Sal, uma menina de treze anos que teve que crescer antes da hora, vítima de abuso sexual desde os dez, e que só vê uma alternativa para impedir que aconteça com a irmã mais nova, Peppa, essa mesma atrocidade que a dilacera.

Por isso, ela se prepara. Passa meses assistindo a vídeos sobre trincos, mira de armas e armadilhas, comprando ferramentas e utensílios na internet, decorando manuais e pensando em cada detalhe de um plano elaborado e arriscado. Então, certo dia, sem que ninguém veja, as irmãs pegam suas mochilas e partem em direção à floresta de Galloway, no sul da Escócia.

É esse ambiente vasto, cercado de perigos e de paisagens deslumbrantes, que acolhe as irmãs e lhes oferece a segurança que jamais encontraram em casa, um refúgio longe da violência familiar. Juntas, elas vão tentar caçar, fazer fogueiras, se abrigar da chuva e do frio, se esconder de qualquer presença inesperada. Em meio à natureza que ao mesmo tempo a abraça e a fustiga, Sal vai descobrir como sobreviver não só aos desafios da vida selvagem, mas também ao trauma que roubou sua infância. [+]



"Ingrid não quis saber por que a polícia estava atrás da gente ou por que não queríamos ver mais ninguém. Acho que foi por isso que decidi que deveríamos ir e ficar no abrigo dela. Talvez só por um tempo, daí a gente voltava para onde estávamos. Eu podia instalar armadilhas lá e caçar para todas nós." Páginas 155 e 156


O refúgio foi lançado em 2020 pela Editora Intrínseca e é o romance de estreia de Mick Kitson. Quando li a sinopse enviada pela editora já soube que seria um dos meus pedidos do mês, pois é uma temática forte e fiquei interessada em conhecer a história de Sal e sua irmã mais nova.

Salmarina é uma adolescente de 13 anos que precisou crescer rápido, violentada desde os dez anos, por seu padrasto Robert, Sal não denunciou os abusos e passou pelo inferno durante os três anos. Quando Robert ameaça começar a fazer o mesmo com Peppa, Sal inicia uma jornada em busca de liberdade. Arquiteta um plano, consegue um pouco de dinheiro, compra itens que serão necessários para sua fuga, aprende a instalar trincos nas portas e espera pacientemente o dia ideal para concretizar seu plano e sua fuga. Quando Robert entra em seu quarto, ela mata o padrasto e como já havia trancado sua mãe em um quarto a polícia não suspeitaria da mulher, então junto de Peppa foge para longe de casa.

Já na floresta de Galloway, Sal e Peppa precisam se virar sozinhas, buscam comida, encontram um lugar para dormir e utilizam tudo o que Salmarina havia encomendado nos meses anteriores e que seria necessário para sobreviver na floresta. Quando um acidente acontece, Sal se vê obrigada a procurar ajuda,  Ingrid aparece e com seus dotes médicos ajuda as meninas e uma amizade começa. Ingrid é uma idosa que já sofreu muito na vida e procurou um lugar afastado para viver, Sal e Peppa decidem confiar na mulher e aprender muito sobre sobrevivência com ela. 

O refúgio é um livro denso e pesado devido a temática, abordar violência sexual contra crianças não é um assunto fácil, mas o autor conseguiu criar uma boa história com uma lição de sobrevivência, tanto pela protagonista Sal, quanto pela personagem Ingrid que teve uma vida extremamente sofrida. Narrado em primeira pessoa, por Sal, o livro nos mostra a fundo seus pensamentos, emoções e batalhas em busca de uma vida melhor longe de todo sofrimento que passava em casa, buscando o mesmo para sua irmã mais nova. Os capítulos são bem divididos, a história não é de leitura fácil, mas é interessante e o autor conseguiu conduzir bem a narração e a cada capítulo ficava agoniada para saber se Sal e sua irmã seriam bem-sucedidas em seu plano e teriam uma vida melhor. Sem dúvidas é um livro que me tirou da zona de conforto e indico para todos os leitores que querem conhecer uma história sobre a batalha de uma garota por sua sobrevivência. 



"Eu queria ouvir mais sobre ela e entender por que tinha ido morar na floresta. Ingrid tinha atravessado a Europa inteira e vira sua mãe ser estuprada, e provavelmente assassinada, e ainda era gentil e cuidava de nós." Página 181



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