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01 junho 2020

Resenha: Pátria - Fernando Aramburu

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Editora: Intrínseca
Ano: 2019
Páginas: 512
Tradutor: Ari Roitman e Paulina Wacht




Bittori e Miren eram muito amigas, pensaram até em entrar juntas para o convento. Os anos se passaram, as duas casaram, vieram os filhos, mas a amizade só se intensificou. Foi preciso uma força descomunal para colocar uma contra a outra: o terrorismo praticado pelo ETA. Quando o marido de Bittori é marcado para morrer, a tensão se espalha pela pequena vila basca e Miren é levada a se radicalizar ao ver um dos filhos entrando para o grupo separatista. Tudo pareceu de certa forma resolvido depois que Bittori foi obrigada a deixar seu lar às pressas em virtude do assassinato do marido. Por isso, quando o ETA anuncia o fim da luta armada, anos depois, ela resolve voltar à vila para um acerto de contas com o passado. Ignorando as advertências dos filhos, está disposta a descobrir os pormenores do crime que a deixou viúva e dar uma resposta à própria condenação como pária.

Numa narrativa ágil, Fernando Aramburu explora as marcas do luto dos familiares das vítimas e do sofrimento dos militantes manipulados, perseguidos e presos. Numa história sem mocinhos nem vilões, o autor revela o quão difícil é superar um trauma tão arraigado, como às vezes esquecer é impossível, e como o perdão e a reconciliação são essenciais para curar uma comunidade dividida pelo fanatismo e pela violência política.



"- Não conheço os detalhes. Na minha casa eles falam mal de vocês. É que minha mãe perdeu o juízo desde que Joxe Marie fugiu para a França. Eu a ouvi falar coisas horríveis sobre Txato. E não dava para discutir com ela. As duas famílias eram tão amigas! Amizade que eu conservo, veja bem. Por isso estou aqui conversando contigo, com muito prazer, aliás. Olha, se eu sair daqui e vir a Bittori andando pela outra calçada, vou lá correndo lhe dar um beijo. Pois bem, para dizer a verdade, eu entendo que o seu pai queira tirar você daqui." Página 211


Pátria é o livro que foi enviado aos assinantes do Clube Intrínsecos no mês de julho de 2019 e chegou nas livrarias em sua capa normal apenas no mês de setembro. Apesar da sinopse chamar atenção, acabei solicitando para a leitura apenas esse ano, já que estou tentando ler todos os livros enviados pelo clube e que foram anteriores a minha assinatura.

De autoria de Fernando Aramburu, Pátria nos apresenta a história de duas mulheres bastante próximas e que com o passar dos anos foram vítimas do fanatismo político e de suas ideologias. Bittori sofreu uma grande perda em sua família e foi levada a se tornar a pária de sua comunidade, mudou de residência, mas sempre que pode retorna à casa em que passou os melhores anos de sua vida junto de sua família. Já Miren, ainda vive na mesma comunidade, porém precisa lidar com o sofrimento de sua família despedaçada.

Ambas sofrem com decisões que foram tomadas por sua família e que afetaram a sua amizade, apesar disso buscam sempre manter as famílias unidas já que com  a luta armada do ETA e seus constantes atos de terrorismo as antigas amigas ficam cada vez mais distantes. Assim como está na sinopse e na capa do livro, algumas histórias não têm mocinhos nem bandidos, apenas vítimas. Esta é a frase que define a leitura perfeitamente, as protagonistas são levadas a abandonar a forte amizade por conta de suas ideologias e há muita coisa por trás dessa história.

Apesar de ter gostado muito da história quando concluí a leitura, esse sentimento não foi assim desde o começo. No início da leitura acabei não me acertando com a forma do autor narrar os acontecimentos com muitos detalhes e que deixavam a leitura lenta, quando vi que não estava rendendo, acabei deixando a leitura para depois. Então veio uma carga extra de trabalho, dengue e demais motivos que me fizeram arrastar a leitura por mais umas duas semanas, mas quando decidi pegar o livro e ler o máximo possível, a história engrenou e aí consegui aproveitar a leitura.

O livro é grande e por muitas vezes acabei empacando na leitura justamente por achar que a história não estava progredindo, apesar de os capítulos serem bem divididos, as letras são menores e dão a impressão de uma leitura lenta, mas ao concluir a obra fiquei impressionada com a história, os personagens e suas lutas. Certamente esse é um livro o qual não estou habituada a escolher para a leitura, mas como a proposta dos Intrínsecos é trazer para os leitores obras diferentes e que são sucesso no mundo, sem dúvida Pátria não decepcionou. A história foi adaptada em uma minissérie e será transmitida pela HBO. Então é mais um motivo para os leitores que gostam de livros desafiadores darem uma chance para Pátria.




"No primeiro instante senti alívio. Talvez porque era muito ingênuo e não tinha a menor ideia do que me esperava." Página 398



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